Ao nascer, raramente um homem conhece o que lhe reserva o destino. Apesar da gênese mineira, foi em terras gaúchas que o Sargento Geraldo Santana se viu reconhecido e homenageado por seus feitos, anos depois da sua morte. Um soldado da comunicação, responsável pela a entrada e saída de informações em uma estação de radiocomunicações, e que sucumbiu na Itália, diante da fúria das bombas inimigas durante a segunda grande Guerra.
Não estava na frente de batalha, nem empunhava uma arma assassina, ao contrário, sua principal missão era transmitir informações. No íntimo, alimentava a esperança de voltar para a esposa, que ficara grávida em solo brasileiro. Entretanto, à zero hora do dia 2 de março de 1945, apenas dois meses antes do armistício definitivo, o desabamento do prédio em que se encontrava, atingido pelas bombas inimigas, lhe ceifou a juventude e os sonhos. Com apenas 26 anos, casado e pai de uma filha recém-nascida, Geraldo Santana pereceu em Porreta Terme, durante as operações de guerra do vale do Rio Reno, sem nem mesmo conhecer sua primogênita.
Nascido em Piranga, no estado de Minas Gerais, no dia 16 de agosto de 1918, o jovem militar radiotelegrafista era filho de Jeremias Valeriano Sant' Ana e de Maria Braz Sant'Ana. Após sua incorporação ao Exército Brasileiro, da qual não existe registro oficial, portanto, em data desconhecida, o jovem militar dedicou-se aos estudos. Reconhecido por ser um aluno aplicado, seu histórico foi digno de notas que comprovavam a dedicação às comunicações. Durante a preparação, frequentou a Escola de Transmissões do Exército, onde concluiu o curso "B-1" classificado em 1° lugar, numa turma de 39 alunos. Promovido a 3° sargento, matriculou-se no Curso "C" da mesma Escola, recebendo, após a conclusão, o distintivo do Curso de Transmissões para Sargentos. Em 14 de setembro de 1943, foi incluído no Quadro de Radiotelegrafistas do Exército – QRE, tornando-se monitor da Escola de Transmissões do Exército.
No decurso de uma vida, o ano de 1944 foi marcado por grandes transformações. As sinuosas linhas do destino reservaram ao Sargento Geraldo Santana desfechos inesperados. Em 16 de março, o jovem patrono geraldino contraiu núpcias com a bela Eliza Cruz. Mas apenas cinco meses após o matrimônio, Eliza, grávida da primeira filha, via o esposo ser transferido para a 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária, da qual, em 22 de setembro, já como integrante da 1ª DIE, embarcava no navio transporte americano "General W.A. Mann", atracado no Armazém 11, do Cais do Porto do Rio de Janeiro, para a Itália. Lá encontraria, em março de 1945, seu derradeiro destino. Foi o primeiro radiotelegrafista brasileiro a tombar nos campos de batalha italianos.
A única herdeira do Sargento Geraldo Santana, Enízia Margarida Sant'Ana, nascida em 21 de fevereiro de 1945, nunca chegou a conhecer o pai. De lembrança, restaram-lhe umas poucas fotografias desbotadas e as medalhas concedidas ao herói caído: MEDALHA DE GUERRA, por ter cooperado no esforço de guerra do Brasil; MEDALHA DE CAMPANHA, por ter, como integrante da Força Expedicionária Brasileira, participado de operações de guerra na Itália; CRUZ DE COMBATE, em razão de sua morte durante ação de feito excepcional na Campanha da Itália; e MEDALHA SANGUE DO BRASIL, por ter sido ferido e morto, na localidade de Porreta-Terme, na Itália, no dia 2 de março de 1945.
Foram 450 praças, 13 oficiais e 8 pilotos brasileiros que tombaram durante a Segunda Guerra Mundial. Mais de 12 mil feridos retornaram à Pátria trazendo profundas cicatrizes no corpo e na alma. Os ‘pracinhas’ foram sepultados no Cemitério Militar Brasileiro, em Pistóia, na Itália, onde ficaram até 1960, quando tiveram seus restos mortais transladados para o Brasil. Foram, então, enterrados no Mausoléu do Monumento aos Mortos da Segunda Guerra, no aterro da Glória, no Rio de Janeiro, que homenageia os sacrificados em combate. Para os vivos foi criada a Associação Nacional dos Veteranos da FEB, a qual procura manter viva a memória desses combatentes heroicos.
Em 1949, o Sargento Geraldo Santana foi escolhido como patrono de uma nova instituição: um clube militar que congregaria subtenentes, sargentos e suas famílias. Seu nome seria lembrado com orgulho pelos companheiros de classe, e seus feitos difundidos entre os militares que visitassem o, então batizado, Grêmio Sargento Expedicionário Geraldo Santana.
Ainda hoje, 100 anos após o seu nascimento, Geraldo Santana continua inspirando sargentos da Arma de Comunicações das Forças Armadas Brasileiras. Seu legado de dedicação incondicional à pátria serve de referencial aos homens e mulheres que defendem essa nação. Mesmo que tardio, esse reconhecimento tem papel importante na afirmação da classe dos sargentos, que encontram aqui, neste clube, refúgio e lazer para si e seus familiares.
O Grêmio Geraldo Santana se orgulha de, em diversas oportunidades ao longo de seus 71 anos de existência, ter recebido a honrosa visita de Eliza Cruz Sant’Ana, viúva do Sargento Geraldo Sant’Ana, e sua filha Enízia Margarida Sant'Ana.
Neste dia 16 de agosto de 2018, se estivesse vivo, Geraldo Santana completaria 100 anos. Aos seus familiares, nossos cumprimentos e a lembrança do grande homem que ainda hoje nos inspira!